A FURIA conquistou o título da LTA Sul 2025 – 2º split, e o Mais Esports entrevistou com exclusividade o General Manager das Panteras.
Agora campeão também fora do draft, Maestro falou sobre os desafios da transição de cargo, o projeto da FURIA e o atual cenário da função de treinador no Brasil.
Quando você fez essa transição para backstage, precisou fazer um intensivão para entender a nova função… Ou você já tinha essa noção do cargo?
Foi um pouco dos dois. Como Head Coach eu já participava do processo de scouting, contratação e gestão interna — sempre dei opinião sobre quem contratar e acompanhei psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista. Mas negociar contrato de jogador ou treinador foi novidade total.
O Jaime e o Guerri me auxiliaram bastante. Aprendi mais networking no último ano do que nos dez anteriores como treinador: conversei com gente que admiro e foi muito edificante.

No esporte é comum a autossabotagem. Você sente alguma insegurança nessa nova função, tipo “será que dou conta de negociar, de ocupar esse papel”?
Guardo muitas inseguranças para mim. Pra mim, humildade e gratidão não são “papo”: são essenciais para o trabalho. Quando preciso de ajuda, admito: “não sei, preciso aprender”. Se você se coloca na posição de quem quer aprender, a vida fica mais tranquila emocionalmente, porque o ego machuca. Algumas pessoas podem ver humildade como fraqueza, mas no longo prazo ela me dá paz.
Agora que você passou para a coaching staff, e foi sua carreira durante muito tempo, como eu falei, talvez você seja o coach brasileiro de LoL mais bem reconhecido na nossa história. Mesmo assim, você procurou um técnico fora do país, no Thinkcard e até o Westonway e antes dele. O que você acha que isso diz?
Cara eu pensei nisso: será que estou traindo minha própria profissão? Cheguei a tweetar sobre achar que muitos treinadores brasileiros continuam um pouco atrás dos estrangeiros para a posição de head coach. No final do ano passado, entrevistei grandes nomes de fora — e também os melhores brasileiros cotados. Temos excelentes talentos aqui, profissionais que desenvolvem bons grupos, assim como eu sempre fiz.
Trabalhando nessa função nos últimos 12 meses, tive a chance de entrevistar muitos estrangeiros e brasileiros, e sim, existe uma diferença grande entre os dois perfis, principalmente pra Head Coach. Os BR estão atrás, e só existe uma opção agora: aceitar o ferro e correr atrás… https://t.co/3sWtmgKIQN
— Lucas Pierre (@MaestroPierre) June 2, 2025
Mas, em termos de sistemas e atualização profissional, percebo que os estrangeiros costumam ser mais organizados. Cada um deles tem um método claro: “eu acredito nisso, é assim que meu time funciona, esse é o perfil de jogador e staff que gosto”. Conversei com cada um sobre isso. Acho que nossos treinadores ainda precisam amadurecer na criação e aplicação de sistemas.
Isso não é uma crítica pessoal: em nosso plano original havia chance de ter um head coach brasileiro, sem problema nenhum. E não é porque alguém é estrangeiro que é automaticamente melhor — odeio essa premissa. Quando escolhi o Thomas, por exemplo, tive uma lista pequena e se nenhum estrangeiro fosse viável, buscaríamos um brasileiro.

Tem alguns estrangeiros de destaque — o Seel, o ThinkCard, o Xero — que trazem práticas que precisamos aprender e absorver.
Entre os brasileiros, tem uns três ou quatro com perfil para ser bom head coach e eu apostaria neles. Talvez percam um pouco em networking, mas são talentos nos quais investiria. Também faltam às organizações clareza sobre papéis: head coach, coach, assistant coach. Então não estou falando que todos os nossos brasileiros são piores que todos os estrangeiros, não.

Esse assunto rende horas de discussão, mas um disclaimer final: a gente tem o Furyz aqui, o meu técnico favorito desde sempre, um cara de talentos absurdos. Mesmo ele, quando a gente foi contratar o Thomas, tínhamos a possibilidade de subir o Furyz como head coach, mas eu falei pra ele: “Cara, que tal se a gente trouxer essa pessoa? Esse cara é bom e tal, você vai aprender muito com ele, vai absorver.”
Então, eu acho que talvez falte isso nas próprias organizações. Elas querem só essa pessoa, esse resultado; essa pessoa, esse resultado… Ao invés de, sei lá, formarem um cara pra fazer tal coisa. Pegue esse cara que é bom — que foi o que aconteceu comigo na INTZ. Eu entrei na INTZ e, na época, a organização foi visionária. Eles falaram: “Vou pegar esse cara, ele vai aprender com o Peter e depois vai ser meu treinador”, entendeu? Eu não vejo muito isso nas organizações.

Pra mim, está cheio de brasileiro bom, mano, cheio de brasileiro bom. Agora, as organizações precisam montar os melhores projetos pra realmente capacitar essa galera e, tipo assim: beleza, agora nós vamos bater de frente.
