Pensei em algumas formas de iniciar esse texto, mas nenhuma delas me parecia a melhor. Queria escrever algumas coisas, traduzir alguns pensamentos sobre a final do CBLoL, sentimentos que ficaram depois da tão inesperada série de 3×2 para a INTZ. Porém, depois de muitas ideias, só me restaram as desculpas, e creio que ao final vocês entenderão meus motivos.
Tempo atrás por mera curiosidade comecei a ler sobre os enxadristas. Muitos podem não saber mas o xadrez é considerado um esporte, uma arte e também uma ciência. Bem por acaso, acabei me interessando por alguns artigos que abordavam a “Psicologia do erro”.
Todos os enxadristas cometem erros, ainda que por razões diferentes. Entre os principiantes, por exemplo, a falta de informação e de conhecimento técnico são os principais fatores que induzem ao erro. Já entre os profissionais, o fator psicológico é constantemente apontado como o principal.
Algumas das fontes dos erros psicológicos são: a jogada natural, o perigo do êxito e a confusão de ideias. A primeira acontece quando o jogador cede a uma jogada que salta à vista, esquecendo-se que algumas jogadas podem conduzir ao colapso ou mesmo que outras melhores existam. Já a segunda acontece quando ele relaxa a atenção e passa a levar menos em conta as ameaças do adversário, sucumbindo ao êxito.
Por fim, a última se trata do momento em que o jogador se perde e não consegue implementar nenhum de seus planos. Manifesta-se quando o pensamento passa de um lado a outro sem uma continuidade lógica necessária para chegar a uma conclusão útil, ou seja, não se converte numa jogada efetiva.
Nesse ponto você já provavelmente está questionando o porquê de eu estar falando sobre xadrez num texto sobre League of Legends. Bom, primeiramente porque os enxadristas também são competidores. Segundo porque eles também são pessoas e como tais, cometem erros. Assim também são os jogadores de qualquer modalidade esportiva, inclusive os de League of Legends.
Quando assisti a série no sábado eu tinha uma visão do Flamengo como favorito e aposto que muitos também. No entanto, conforme os jogos se sucediam, comecei a realizar mentalmente um paralelo com um jogo de xadrez. Tem-se o tabuleiro (Summoner’s Rift), as peças (campeões) e as jogadas que são baseadas em estratégias pré estabelecidas. É claro que um jogo é coletivo e outro individual, mas eu não me atentei a esse detalhe em específico. Eu estava contemplando o jogo mental.
Muito se engana quem julga que League of Legends seja jogado apenas nos dedos, isto é, com base nas habilidades individuais. O jogo é pensado a cada segundo, é extremamente estratégico e não apenas em termos de decisões. Optar por um dive, executar uma team fight e dar uma call para um Barão são possibilidades que advém de pensamentos estratégicos. Entretanto, controlar os ânimos e as emoções e exercitar autocontrole, autoconfiança, atenção e motivação são características que envolvem um preparo completamente diferente, é quase que um jogo à parte.
É claro que foram vários os fatores que desencadearam na vitória dos Intrépidos. Você pode pensar em falhas de draft, execução, problemas de performances individuais ou coletivas, dentre outros. Mas eu, como já mencionei, pensei num jogo a mais que acontecia na minha cabeça, o jogo psicológico que, ao meu ver, foi completamente decisivo. Os rubro negros até então praticamente não haviam sido testados nesse aspecto.
Assim como os enxadristas, os profissionais de League também mostram que são mais induzidos aos erros pelo fator psicológico. Honestamente, tenho poucas razões para acreditar que essa série tenha sido decidida mais por questões técnicas e más estratégias. Não acho que a equipe que desempenhou a melhor campanha da história do CBLoL cairia por essa razão.
Muitos diziam “O jogo é jogado” e internamente, durante a última partida, eu só conseguia pensar na disputa mental. “Quem conseguir segurar a barra vai ganhar”, pensei. Logo em seguida, vi alguns lances em sequência em que Shrimp era pego fora de posição e BrTT, Luci e Goku eram mortos em jogadas que pareciam “sem sentido”. Era totalmente a “confusão de ideias” presente na minha frente.
Dentre esses erros, um denominador comum: uma incompleta ou inadequada organização de ideias ou do processo mental mediante o qual o jogador põe em prática seus conhecimentos. Quero dizer que aquela equipe tinha o conhecimento e habilidade suficientes para colocar em prática tudo o que pretendiam, mas estavam sob condições psicológicas que dificultaram essa execução.
Quando apostei no Flamengo, mesmo considerando que era um grupo que cometia erros mas que vinha numa crescente impressionante – e quase que imbatível -, o tal do “jogo mental” passou batido. Coloquei várias condições acima disso e errei. Afinal, a INTZ se provou melhor nesse aspecto.
Ora, já faz um bom tempo que o clube vinha realizando um trabalho psicológico admirável. Primeiro com Claudio Godoi, que agora é psicólogo da Team Liquid e no presente momento, com Natália Zakalski, que já tinha passado pela CNB Esports Club. Além disso, Maestro também já lidera a equipe há algum tempo, e dentro dessa função, provou saber lidar com muitas adversidades como o hate e a pressão da torcida.
E é por essa razão que eu deixo as minhas sinceras desculpas. Eu subestimei uma equipe e não levei em consideração um dos aspectos que creio ser o mais importante. É claro que eu tinha muitos motivos para crer que o Flamengo seria campeão, principalmente com base no desempenho que tiveram na primeira fase, mas isso nunca é o bastante, já que o jogo não é só jogado dentro de Summoner’s Rift.
Dentre as várias lições que aprendi ao assistir a essa final, uma me parece a mais importante: reconhecer. Eu reconheci o erro de subestimá-los assim como a própria INTZ reconheceu que tinha a capacidade de sair vitoriosa do jogo mental. Por sua vez, o Flamengo reconheceu que talvez não fosse o melhor time durante o sábado. Independentemente do resultado, acho que todos fomos capazes de aprender algo num fim de semana em que vários times favoritos foram derrotados. Seja lá o que tenha sido, eu espero cada vez mais por séries como a de hoje.