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Babi barra insegurança e começa carreira “impressionível” na narração

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Babi começou a narrar partidas de Counter-Strike: Global Offensive em novembro do ano passado

Recomeçar nunca é fácil, mas Bárbara “Babi” Micheletto trocou os halteres pelo microfone. Formada em educação física, a paulistana de 28 anos deixou a profissão como personal trainer em 2018 para se dedicar ao filho e, de casa, começou uma nova vida como streamer.

Nos últimos meses de 2018, porém, Babi não se contentou com as transmissões de suas próprias partidas e decidiu explorar um campo que ainda é praticamente inabitado por mulheres: a narração de Counter-Strike: Global Offensive.

“No começo foi tudo muito assustador. Era algo muito novo e eu não sabia se ia conseguir”, contou Babi em entrevista ao Mais Esports.

“Eu entrava no computador e chamava a reeh para estudar [narração]. A gente assistia transmissões e narrava alguns rounds. No começo foi difícil”, completou.

De acordo com Babi, o tempo de estudo disponível é limitado, mas ela o usa para observar transmissões nacionais e internacionais. A rotina atual é dividida entre assistir durante a tarde e narrar na parte da noite.

Os padrinhos e a parceria

O interesse de Babi pela narração aconteceu durante uma partida “meio mé” de um torneio nacional.

“Quem estava fazendo a transmissão era o qeP, mas não lembro o comentarista. Me prendeu muito e eu achei aquilo incrível. Foi aí que eu passei a ver com outros olhos esse mundo por trás. Sempre enxergamos só os jogadores, times e não damos atenção para os casters. Comecei a dar uma estudada e acabei me apaixonando pelos bastidores de uma partida”, explicou.

Ricardo “qeP” Fugi, inclusive, é um dos “padrinhos” de Babi. Além do narrador, o veterano Luis Felipe “Savage” Hessel também faz parte deste seleto grupo.

“Meu primeiro feedback foi, inclusive, numa live do Sav. A partir daí, meu estudo vem sendo insano em cima do feedback dos dois. Qualquer dúvida pergunto com eles. Considero eles demais e aprecio muito o trabalho deles”, contou Babi.

“Eles já estão inseridos no meio há muito tempo e a opinião deles pesa um pouco mais. Eles me explicam muita coisa e, todas as dúvidas que tive até agora, foram sanadas pelos dois. Eu vim de times e não tinha bagagem nenhuma de narração, entrei crua. Todas as críticas e feedbacks são bem vindos, mas a opinião dos dois pesa bastante nas minhas decisões”, completou.

Além dos padrinhos, Babi tem uma parceira: Renata “reehplays” Bagnato. A streamer, que também deu seus primeiros passos como comentarista em 2018, tem auxiliado a narradora nas transmissões e nos estudos.

“Quando eu pensei em narrar, postei no Twitter e ela veio falar comigo. Ai eu pedi ela em casamento na narração”, brincou Babi. “Até o fim do ano, nós estávamos bem dispersas, fora do foco que eu queria. Aí conversamos e definimos o nosso objetivo. O que pudermos fazer juntas, iremos fazer”, continuou.

Estilo impressionível

Assim como os narradores do esporte tradicional, os casters de esports têm seu próprio estilo e seus bordões únicos. Com Babi não é diferente. Quando questionada sobre seu modo de narração, ela diz que adota o “formal descontraído”.

“Eu [narro] passando informações, mas, no meio de um round ou outro, fazer uma piadinha não faz mal. De vez em quando acontece essas descontrações e eu quero permanecer com esse estilo”, afirmou.

Esse estilo adotado por Babi é o mais recorrente nas transmissões brasileiras, mas não é uma unanimidade. Parte do público brasileiro prefere assistir streams em outras línguas para evitar essas streams “mais descontraídas”.

A narradora disse que gosta do modo escolhido por ela e pelos companheiros de profissão, mas também entende o público que prefere mais seriedade.

“Tem bastante gente que não gosta, prefere assistir até em russo por causa das brincadeiras. É até por isso que eu opto por fazer menos piadas. Faço um trocadilho ou outro para não ficar tão formal. Às vezes [o jogo] está valendo uma vaga super importante e só tem piada, é até um pouco de desrespeito com as equipes”, explicou Babi.

E desse formal descontraído nascem algumas expressões. A mais famosa delas é o “impressionível”, usada por Babi após uma grande jogada. Ela lembra que o bordão, uma variação do termo “impressionante”, é usado pela mesma há anos.

“Era algo que eu usava muito desde os tempos de jogadora no 1.6 e eu trouxe para a narração”, conta.

Outra expressão usada com frequência é a “mongolov” – referência ao coquetel molotov utilizado pelos terroristas: “É uma granada bem roubada. [Quando uso este bordão] não estou xingando ninguém, é uma forma carinhosa de chamar a molotov”, completou.

Dando a cara

A vida das mulheres na internet não é nada tranquila e o meio dos esports não é diferente. Desde antes de entrar para a narração, Babi já sofria com ataques em suas streams de League of Legends. Foi aí que ela criou um bloqueio.

“Existe bastante preconceito na narração e em outras áreas [dos games]. Eu fiz um trabalho psicológico por conta das minhas streams. Eu recebia muito hate e acabei criando uma barreira”, explicou.

Para a narradora, esse preconceito é um dos fatores que impede que outras mulheres se interessem pela narração ou por outras atividades ligadas à transmissão: “Muitas meninas ficam inseguras por causa disso e acabam não lutando pelo que querem”.

Apesar disso, Babi enxerga uma mudança de postura em solo nacional. “No Brasil, as mulheres estão dando bastante a cara. Espero que consigamos cada vez mais espaço no cenário”, afirmou.

Os problemas, porém, não advém só do fato de Babi ser uma mulher. Boa parte do público critica qualquer narrador que não seja o seu favorito – e isso é algo que ela sentiu na pele recentemente, quando narrou as seletivas abertas da IEM Sydney ao lado de Guilherme “Guizao” Kemen.

“Ele disse que eu não deveria levar todas as críticas para esse lado [de ser mulher], porque o pessoal estranha tudo o que é diferente. Ele lembrou que outros narradores encararam esse hate, lutaram por um espaço e continuam trabalhando até hoje”, contou Babi.

“Eu pretendo usar isso para me deixar mais forte. Eu não vou desistir, [a narração] é algo que está me deixando mais viva. Eu acordo e penso no jogo que eu vou narrar. Não vai ser fácil fazer com que eu desista”, completou.

De olho no futuro

Apesar de ter narrado sua primeira partida só no último dia 29 de novembro, Babi já vê uma rápida evolução e recebeu seus primeiros convites para eventos presenciais: um torneio que acontecerá durante a Campus Party e também a Liga SP.

Questionada sobre seu futuro, Babi não escondeu o desejo de entrar para o quadro de narradores da ESL Brasil – que já convidou a mesma para trabalhar nas seletivas da IEM Sydney.

“Eu acho que ninguém almeja algo diferente do que a ESL. É uma referência e um sonho de todos que estão começando. Eu penso mesmo em trabalhar lá”, afirmou a narradora.

Para chegar no objetivo, Babi conta com o apoio e os ensinamentos de seus padrinhos, familiares e dos fãs.

“Agradeço muito aos meus padrinhos qeP e Sav pelas dicas. [Agradeço] minha mãe e meus primos me apoiando. Eles nunca nem jogaram nada e estou achando esse apoio muito importante, são coisas que eu não tive no passado. E também [agradeço] ao pessoal que tem apoiado e gostado do meu trabalho. As críticas são sempre bem vindas e um passo a mais para minha evolução. Tudo que quiserem falar para somar, só ajuda”, finalizou.

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Roque Marques
publicado em 4 de fevereiro de 2019, editado há 5 anos

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